Primeira prova nos EUA.

A animação era grande quando boa parte do número de brasileiros que mora no Vale do Silício decidiu fazer o Levi’s Granfondo. Uma turma muito boa e especial que nos fez nos sentir em casa desde que chegamos aqui. Essa já é uma prova tradicional e com várias distâncias e altimetrias diferentes, o que possibilita que ciclistas de diferentes níveis possam pedalar nas lindas estradas entre Napa e Sonoma. Os grupos de WhatsApp ficaram agitados com mensagens de combinação de treinos, confecção de uniforme, desafio para os filhos que iriam junto e a tradicional troca de incentivos e “bullying” entre amigos.

Com a proximidade da prova para a semana seguinte, a previsão do tempo trouxe desânimo e preocupação. A normalmente quente e ensolarada Califórnia mostrava seu lado “sombra”, com 85% de chance de chuva e temperaturas beirando o zero grau. Cada ciclista foi tomando sua decisão de competir ou não, mudança de percurso, ou simplesmente ir para a promissora feijoada pós-prova. Deixei para avaliar e me decidir na curva que dividia a prova de 130 km para a prova de 100 km. Alinhados para a largada e a garoa fina na cabeça, ouvimos o hino americano e o nome de um grande número de ciclistas (ex)profissionais que estavam na prova. Estava bem equipado e não sentia frio, apesar dos 6 graus.

Dada a largada, asfalto molhado, aquele barulho de freio gritando o tempo todo, água suja no rosto, cuidado ao máximo para evitar um tombo. O pelotão começa a esticar, sinal que tem gente fazendo força lá na frente. Tento ser maduro (kkk) e ficar onde estou, mas pouco a pouco fui indo para frente. Me perdi do Carlão (amigo que estava junto na largada) e encontrei o Leo, que fazia (com muita coragem) a prova com uma bike gravel. O pelotão só acelerava e num dado momento nos vimos na frente do pelote puxando. Falei para o Leo olhar para trás e ver o tamanho da fila atrás de nós. Disse que nesse ritmo não ia aguentar chegar ao final.

Fui umas 10 posições para trás e o Leo umas 6. Ficamos um bom tempo com esse grupo. No início da subida o grupo se dividiu e eu fiquei encaixotado no segundo pelotão. Tentei esticar para chegar no Leo mas já não dava. Pedalei um bom trecho sozinho e resolvi não parar na primeira estação de apoio. A estrada é linda, mesmo com chuva, que agora já quase não caía, imagino com sol. Um trecho lindo de terra ao lado de um rio que por conta da chuva tinha bastante volume.

Olho para trás e vejo um grupo subindo rápido, me passam e eu nem fiz menção de tentar acompanhar, já estava no meu ritmo e seguiria assim. Ao final do grupo vejo o Leo e seguimos juntos dali em diante. 20 km de subida variando entre terra, asfalto ruim e asfalto bom. Lá de cima vemos os Geysers da região, o vale, e o cume das montanhas com neve. Em um dado trecho a inclinação varia entre 10% e 14%. Me distancio um pouco do Leo que tem maior dificuldade com a bike mais pesada. Mas só o suficiente para parar na estação no topo da montanha para uma parada hidráulica, comer um gel e uma banana. Leo chega e conversamos um pouco com uma das voluntárias que fica surpresa em saber que somos do Brasil.

Mas não dava para conversar muito pois o vento lá em cima dava a sensação térmica de zero grau. Rapidamente começamos a descer e no meio da descida o pneu do Leo fura. Ainda bem que ele tem pneu tubeless e o líquido auto selante que fica no pneu vedou o furo em questão de segundos. Diminuímos o ritmo e seguimos descendo. Agora no plano faltava apenas 30 km para a chegada, mas o vento contra nos castigava. Nos revezamos para tentar manter um bom ritmo, mas aos poucos minha energia foi acabando. Leo puxou a maior parte e eu tentava ajudar quando dava. Cruzamos a linha de chegada dos 130 km com quase 2000 de ascensão com 5:07 de pedal.

Na chegada a Isa, João e Guri estavam esperando. Para mim uma das melhores partes quando acabo um esforço desse tamanho é o abraço deles. Nos juntamos aos amigos que estávamos por ali que já haviam chegado de outras distâncias. Todos cansados mas muito felizes com a conquista. Obrigado Leo pela parceria ao longo da prova.

Dali foi um banho rápido para encontrar o restante do grupo que já se dirigia para feijoada para confraternizar e comemorar o aniversário de outro ciclista, o Rodrigo. Uma tarde muito especial, cada um contando suas peripécias na prova, os perrengues, tombos, problemas mecânicos, ultrapassagens assim como uma boa resenha tem que ser. As crianças se divertindo lá fora, aquela gritaria gostosa de crianças se divertindo.

Que fim de semana especial. Aproveito para deixar aqui o meu agradecimento a todos, que desde que chegamos aqui tem feito desse um lugar muito especial e que já criou memórias para levarmos para o resto de nossas vidas. Que venham muitos mais momentos como esses.

Obrigado por seu comentario…em breve lhe responderei…

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