Atacama 2022

Becker ao cubo – 3 gerações no deserto

Há tempos planejava uma viagem com meu Pai e meu filho, uma tentativa frustrada por conta do Covid no ano inicio do ano adiou os planos. Queria ir num lugar diferente o que por si só já é um desafio. Ter um destino diferente para o meu pai depois de uma vida inteira como piloto, sobraram opções pouco para fazer. Lembrei de um dia ele ter dito um lugar que tinha vontade de conhecer mas achava que esse “bonde” já havia partido e que não teria mais essa chance pela complexidade de chegar. Para o João, toda aventura o entusiasma. O Atacama era esse lugar. 

Pesquisei então a melhor maneira de ir ao ATACAMA. Já havia ido de carro há quase 20 anos atrás. Foi um expedição fantástica (detalhes aqui) onde passei por Argentina, Chile, Peru e Bolívia.

Mais do que uma vigem de família, queria um mergulho de convivência entre nós. Um tempo para reflexão, para curtir juntos. Para João e meu pai terem lembranças e historias juntos. Sinto o tempo passando mais e mais rápido. Quero passar valores verdadeiros para o meu filho. Quero agradecer meu pai por tudo que me ensinou.  Pode ser que o volume de trabalho dos últimos anos, potencializado pela pandemia e um processo de reflexão tenham potencializado esses pensamentos. Mas o fato é que precisava desconectar e passar esse tempo com eles. A Isa desde o inicio foi uma enorme incentivadora do projeto o que pra mim foi muito importante.

Tudo planejado, optei por um hotel com boa estrutura de alimentação e passeios para acomodar todos interesses e possibilidades de locomoção. O Explora realmente superou minhas expectativas. Meu pai com 80 e meu filho com 12, poderia imaginar interesse distintos, mas na maioria das vezes foram convergentes.

A saída foi tensa, na semana do embarque a burocracia de documentos, comprovantes de vacina, certificados que o Chile exigia e um mundo de fotos tornava tudo mais complicado. O “passaporte sanitário ” do meu pai foi negado…depois o dele foi resolvido e o meu não. Pedi ajuda para a agencia para me ajudar com essa papelada. Eu estava em semana que antecede as férias e parece que tudo tem que se resolver no trabalho. Não tinha tempo ou foco para cuidar disso. A Terramundi ajudou muito nesse suporte.

Tudo resolvido, fomos para o aeroporto de madrugada. Voo muito cedo até Santiago e depois para Calama. Dali mais uma hora até o hotel. Só consegui relaxar quando fizemos o check in. Entramos no quarto que tinha uma bela vista do Lincancabur (vulcão protetor de São Pedro do Atacama) . A noite tivemos uma palestra sobre a região e de como poderíamos planejar nossos passeios para ir aclimatando o organismo a altitude.

Primeiro dia fomos pela manhã no Vale do Arco-íris, com tonalidades e cores muito diferentes, nunca tinha visto uma montanha verde, não por conta da vegetação mas sim por um calcário verde. João ficou vidrado nas explicações do nosso guia Dani. Passamos também por um sitio arqueológico com vários Petróglifos de diferentes épocas que mostram um pouco dos povos que por ali passaram e deixaram de ser nômades a medida que conseguiram domesticar as Ilhamas e suas derivadas, Alpacas, Vicunhas e Guanacos.

Voltamos para a Van e um belo aperitivo nos esperava….primeiro brinde  no deserto das 3 gerações. Voltamos ao hotel para almoçar, vinho e descanso. Alias a divisão de horários dos passeios favorecia um tempinho para um descanso pós almoço. Recuperados vamos para o passeio da tarde. Agora o Salar do Atacama que nos rendeu lindas imagens do por do sol e muitos flamingos.

No dia seguinte fomos para as termas de Puritama, lugar que inacreditável, no meio do deserto, no fundo de um Cânion se abre uma fenda com um rio e piscinas cristalinas de aguas quentes. Não dava vontade de sair. Mais uma vez um aperitivo com bebidas, queijos e presuntos.

Na parte da tarde fomos ao Vale da Lua, uma caminhada na paisagem realmente incrível. Formas, cores e cristais de sal. Nesse dia meu pai sentiu a caminhada e a altitude. Aguentou firme mas se cansou bastante. Todos ficaram impressionados quando o João disse que ele tinha 80 anos. Ao final ainda havia um morro para subir e ver a vista la de cima. Meu pai preferiu esperar na van e eu fui lá com o João. Que visual lindo. Voltamos para o hotel para um banho, um jantar revigorante e claro um bom vinho chileno para uma boa noite de sono.

No dia seguinte a grande subida, fomos até quase 5000 metros, nos Gêiseres do El Tatio. Quando fui a 20 anos atras, a estrada era muito pior e o local era sem nenhuma estrutura. Hoje conta com caminhos bem demarcados, estrutura de banheiros e estacionamento. O lugar é muito bonito e vale as quase 2 hs no carro, depois um café da manhã a beira de uma lagoa cheia de guanacos e de volta para o hotel.

A tarde meu pai ficou descansando no hotel e eu e o João fomos fazer um passeio de bike pela garganta do diabo. Passeio curto mas muito bacana, ao final o João ainda tinha disposição para subir num mirante que dava vista de todo vale. Voltamos para o hotel, a essa altura o João já estava entrosado com vários hospedes e por onde andava todos o cumprimentavam. Chutaria que 80% do hotel era de brasileiros. Enquanto Joao e sua turma jogavam a frente da lareira eu e meu pai bebíamos um Pisco Sour com um erva chamada Rica-Rica que nasce no deserto. Após o jantar fomos no pequeno observatório astronômico do próprio hotel. O Atacama, pela sua altitude, ar seco e isolamento, tem um dos seus mais estrelados do mundo.

Dia seguinte de descanso. Visitamos a vila que pouco mudou nos últimos 20 anos, visitamos a igreja e aproveitei para agradecer muito por tudo estar dando certo, melhor do que sonhei. Tomamos o sorvete com sabores do local e voltamos ao hotel. A tarde o João me convenceu a dar uma volta a cavalo com ele. Não sou muito bom em pilotar coisas que tem vontade própria. Mas me sai bem. Os cavalos do hotel foram “desenvolvidos” de raças resistentes e calmas para aguentar a secura do deserto e não dar susto em ninguém.

Fechamos nossa estadia com um maravilhoso churrasco de cordeiro feito em fogo de chão. Nosso ultimo brinde dos Beckers antes de voltar.

Essa viagem foi muito especial. Momentos que ficarão marcados pra sempre na memoria. Brincadeiras e zoações entre nós que rederam enormes gargalhadas. O cuidado de um com o outro. O respeito as limitações de cada um. As conversas mais “filosóficas” e a certeza da construção de grandes lembranças.

Não tenho certeza se ou quando teremos chance de fazer uma dessas novamente e esse duvida me traz um pouco de angustia…mas é muito mais bacana pensar e agradecer pela oportunidade que tivemos de viver tão intensamente esses dias incríveis… pedi para cada um definir em uma frase a viagem.

– João – Simplesmente, maravilhosamente incrível.

– Artur – ESPETACULAR, por todo cenário e, principalmente, pelos companheiros de viagem!

Só tenho a agradecer muito pela oportunidade, por dias felizes, pela saudade e a lembrança da minha mãe que tenho certeza esteve conosco, pelo apoio incondicional da Isa, pelo educação e valores que recebi, pelo que estou tentando passar para meu filho. Precisamos de mais tempo dedicados as pessoas, as relações, a família, ao que realmente importa. OBRIGADO…

2 respostas para “Becker ao Cubo no Deserto”.

  1. Eduardo, você é além da imaginação!!!!
    Parabéns!! Nenhum dos 3 nunca mais vai esquecer tudo isso!

  2. Essa era a ideia….🙏

Obrigado por seu comentario…em breve lhe responderei…

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